segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

ROBERTO ROSSELLINI (1906-1977)



ROBERTO ROSSELLINI (1906-1977)

Roberto Gastone Zeffiro Rossellini nasceu em Roma, a 8 de Maio de 1906, e viria a falecer na mesma cidade, a 3 de Junho de 1977, com 71 anos. Casado com Assia Noris (1934-1936, anulado), Marcella De Marchis (1936-1950, divórcio), Ingrid Bergman (1950-1957, divórcio) e Sonali Senroy DasGupta (1957-1977, morte de Rossellini). Filhos: Romano Rossellini, Renzo Rossellini (segundo casamento), Roberto Rossellini, Isabella Rossellini, Isotta Rossellini (terceiro casamento), Gil Rossellini (quarto casamento).
Habitando na Via Ludovici, originário de uma família da média burguesia romana, onde a música, o teatro e a cultura em geral tinham destacado lugar, Roberto Rossellini tinha como pai Angiolo Giuseppe Rossellini, conhecido como Beppino Rossellini, um notório arquitecto, senhor de certo prestígio e fortuna, que beneficiava ainda do apoio de um rico tio empresário, Roberto Zeffiro Rossellini. Beppino era também dado às artes e construiu em Roma um teatro onde se podia igualmente projectar filmes - diz-se que foi mesmo a primeira sala romana com esta ambivalência. O Cinema Barberini, inaugurado em 1930, projectado por Marcello Piacentini, e ainda hoje aberto ao público, agora em sala multiplex, depois de algumas obras, fica localizado na Piazza Barberini, perto do famoso Hotel Bristol, ao lado da Via Veneto, tendo em frente a fonte do Tritão, da autoria de Bernini.
O jovem Roberto Rossellini, que tinha três irmãos mais novos, Renzo, Marcela e Micaela, assistia, portanto, a tudo quanto passava nessa sala, ganhando o gosto pelo cinema. O seu primeiro emprego, ainda jovem, foi como captador de som para filmes, passando depois a outras tarefas na mesma área, tendo ganho experiência que lhe foi decisiva no futuro.
Fala-se de um primeiro casamento com uma actriz de origem russa, mas naturalizada italiana, Assia Noris, mas foi declarada a nulidade do mesmo. Em 1936, casa com Marcella de Marchisqui, figurinista, especializada sobretudo em guarda-roupa para cinema. Deste casamento nasceram dois filhos, Marco Romano (1937) e Renzo (1941), o primeiro dos quais morreu tragicamente, com um ataque de apendicite, enquanto criança ainda. O filme “Germania, Anno Zero” era dedicado a esse filho, Romano.
Outra curiosidade importante para situar o percurso biográfico do futuro cineasta foi o facto da casa dos pais se encontrar perto do hotel de Benito Mussolini. Roberto privou desde jovem com Vittorio Mussolini, filho do ditador, que mais tarde teria um importante papel na condução da cinematografia italiana, sob a inspiração fascista. A estreia de Rossellini na realização dá-se em curtas-metragens, “Daphne” (1936), a que se seguiram, em 1938, “Prélude à l'Après-midi d'un Faune”, proibida pela censura, acusada de falta de pudor, e, em 1939, “Fantasia Sottomarina”. Em 1938, foi assistente de Goffredo Alessandrini na escrita de “Luciano Serra pilota”, que ganha o Prémio Mussolini para o melhor filme italiano, no Festival de Veneza, e teve um enorme sucesso de público. Em 1940, foi assistente de Francesco De Robertis na realização de “Uomini sul Fondo”. Passa então à realização, assinando três obras de propaganda fascista que se inscrevem na sua filmografia como a “Trilogia Fascista” (1941-1944) (curiosamente, um texto publicado nos “Cahiers du Cinéma”, intitulado “Dix ans de Cinéma”, passa em claro este período e estas obras): “La Nave Bianca” (1941), é uma encomenda do Centro Cinematográfico do Ministério da Marinha, que ganhou o Prémio do Partido Fascista, “Un Pilota Retorna” (1942) e “Uomo dalla Croce” (1943). Por essa época, estabelece-se uma forte amizade com Federico Fellini e o actor Aldo Fabrizi.
Quando o regime fascista começa a desmoronar-se, em finais de 1943, dois meses antes da queda de Roma, Rossellini começa a preparar as filmagens de “Roma, Città Aperta”, com a colaboração de Fellini e de Aldo Fabrizi, que irá interpretar o principal papel masculino, ao lado de Anna Magnani. O filme, produzido pelo próprio, com economias pessoais e empréstimos, estreia em 1945, passa relativamente desapercebido na estreia italiana, mas recebe o Grande Prémio de Cannes e é triunfalmente acolhido em França e nos EUA, sucesso que se reflecte então em Itália.
Em 1946, realiza “Paisà”, com actores não profissionais, e em 1948 “Germania anno zero”, filmado no sector francês de Berlim, produzido por um francês. Continua a preferir trabalhar com actores não profissionais e explica a razão: “Para criar uma personagem que temos em mente é necessário ao argumentista estabelecer uma verdadeira batalha com o actor, que muitas vezes acaba com o argumentista a submeter-se aos desejos do actor. A fim de não delapidar a minha energia numa batalha como essa, escolho actores profissionais apenas de tempos a tempos”.
Rossellini roda seguidamente “L'Amore” (que compreende dois filmes de média metragem, “La Voix Humaine”, segundo Cocteau, e “Le Miracle”, segundo Fellini), de novo com Anna Magnani, com quem estabeleceu uma tumultuosa relação amorosa, e “La Macchina Ammazzacattivi”.
Em 1948, Rossellini recebe uma carta de Ingrid Bergman, que na altura tinha Hollywood aos pés, sobretudo depois de “Casablanca”. Rezava assim: “Caro M. Rossellini, Vi os seus filmes “Roma, Cidade Aberta” e “Païsa”, e gostei muito deles. Se tiver necessidade de uma actriz sueca que fala muito bem inglês, que não esqueceu o seu alemão, que não se faz compreender muito bem em francês, e que em italiano nada mais sabe dizer senão “ti amo”, então eu estou pronta a ir fazer um filme consigo”. Assinava, Ingrid Bergman. Sem pensar duas vezes, presumo eu, Rossellini convida Ingrid Bergman para interpretar “Stromboli, Terra di Dio”, cujas filmagens decorreram na isolada ilha de Stromboli. Era o primeiro título de um novo ciclo, este dedicado a Ingrid Bergman, e que, além de “Stromboli” agrupa ainda “Europa 51”, “Viaggio in Italia”, “O Medo” e “Giovanna d'Arco al Rogo”. Era igualmente o início de um idílio que iria dar muito que falar. Rossellini e Ingrid eram casados, a sua relação deu brado por todo o mundo, a actriz ficou grávida, sob as fagulhas do Stromboli, as ligas de decência insurgiram-se, a América ficou chocada, repudiaram os adúlteros, e Ingrid Bergman ficou na lista negra de Hollywood. Casaram-se em 1950. O romance durou sete anos. Em 1957, Rossellini partiu para a Índia, para rodar uma série de documentários para a televisão, e uma longa, e aí conheceu uma argumentista indiana, Sonali Dasgupta, casada com um realizador de documentários, mãe de filhos, e rebenta outro escândalo, este com uma tonalidade muito oriental. O casal parte para Itália, Sonali traz o filho, que Rossellini adopta, deixa a filha com o pai, e pouco depois nasce Gil Rossellini. Viveram juntos até à morte de Rossellini, em 1977.
Cinematograficamente, os escândalos da vida pessoal e o insucesso das obras para televisão arruinaram a reputação de Rossellini. Não havia produtor que lhe concedesse liras para um filme, até que consegue rodar “O General Della Rovere”, em 1959, uma obra-prima que ganha prémios em festivais internacionais, Veneza finalmente!, e o projecta de novo como grande mestre. Seguem-se “Era Notte a Roma”, de novo sobre a II Guerra Mundial, e duas peliculas históricas, “Viva l’Italia” (1960) e “Vanina Vanini” (1961). Mas Rossellini não gosta do “espectáculo”, prefere o cinema pedagógico e acerca-se da televisão educativa para rodar uma série de documentários ficcionados sobre personalidades históricas, como “L’ Etá del Ferro”, “Benito Mussolini”, “La Prise du Pouvoir par Louis XIV” (excelente exercício), “La Lotta dell’Uomo per la Sopravvivenza”, “Atti degli Apostoli”, “Socrate”, “La Forza e la Ragione”, “Blaise Pascal”, “Agostino d’Ippona”, “L’Età di Cosimo de Medici”, “Cartesius”, “Anno Uno”, “Il Messia”, entre outros. O seu derradeiro filme data de 1977, e documentava “Beaubourg, Centre d’Art et de Culture George Pompidou”. Para lá do cinema e da televisão, ainda encenou diversas peças de teatro, escreveu vários importantes textos sobre cinema, e colaborou em argumentos para outros cineastas, nomeadamente para Godard, “Les Carabiniers”.
Entre 1968 e 1974, dirigiu o Centro Sperimentale di Cinematografia. Morreu em Roma, a 3 de Junho de 1977, com 71 anos, de crise cardíaca.


FILMOGRAFIA:
Cinema
1935: DAFNE (curta-metragem)
1937: PRÉLUDE À L'APRÈS-MIDI D'UN FAUNE (curta-metragem)
1938: FANTASIA SOTTOMARINA (curta-metragem)
1939: LA VISPA TERESA (curta-metragem)
1940: IL TACCHINO PREPOTENTE (curta-metragem)
1941: IL RUSCELLO DI RIPASOTTILE (curta-metragem)
1941: LA NAVE BIANCA
1942: UN PILOTA RITORNA
1943: L'UOMO DALLA CROCE
1943: DESIDERIO (filme iniciado por Rossellini em 1943, com o título "Scalo merci" e concluído em 1946 por Marcello Pagliero)
1945: ROMA, CITTÀ APERTA (Roma, Cidade Aberta)
1946: PAISÀ (Libertação)
1948: GERMANIA ANNO ZERO (Alemanha, Ano Zero)
1948: L'AMORE
1949: L'INVASORE, de Nino Giannini e Roberto Rossellini (supervisão)
1950: STROMBOLI TERRA DI DIO (Stromboli)
1950: FRANCESCO, GIULLARE DI DIO (O Santo dos Pobrezinhos)
1952: LA MACCHINA AMMAZZACATTIVI)
1952: I SETTE PECCATI CAPITALI (Pecados Mortais), de Yves Allégret, Claude Autant-Lara, Eduardo De Filippo, Jean Dréville, Georges Lacombe, Carlo Rim, e Roberto Rossellini (episódio “L’Envy” ou"L’Envie” )
1952: EUROPA '51 (Europa 51)
1953: SIAMO DONNE, de Gianni Franciolini, Alfredo Guarini, Roberto Rossellini (episódio "Ingrid Bergman"), Luchino Visconti, Luigi Zampa
1953: RIVALITÀ, de Giuliano Biagetti e Roberto Rossellini (supervisão)
1954: DOV'È LA LIBERTÀ? (Onde Está a Liberdade?)
1954: VIAGGIO IN ITALIA (Viagem em Itália))
1954: ANGST (O Medo)
1954: AMORI DI MEZZO SECOLO, de Mario Chiari, Pietro Germi, Glauco Pellegrini, Antonio Pietrangeli, Roberto Rossellini (episódio "Napoli 1943")
1954: GIOVANNA D'ARCO AL ROGO
1957: INDIA MATRI BUHMI (documentário)
1959: IL GENERALE DELLA ROVERE (O General Della Rovere)
1960: ERA NOTTE A ROMA (Era Noite em Roma)
1961: VIVA L'ITALIA (Viva Itália)
1961: VANINA VANINI (Vanina Vanini)
1962: ANIMA NERA
1963: RO.GO.PA.G., de Jean-Luc Godard, Ugo Gregoretti, Pier Paolo Pasolini, Roberto Rossellini (episódio "Illibatezza")
1974: ANNO UNO
1976: IL MESSIA (O Messias)

Televisão
1959: L’INDIA VISTA DA ROSSELLINI (mini-série)
1961: TORINO NEI CENT'ANNI
1962: I CARABINIERI
1962: BENITO MUSSOLINI
1964: L'ETÀ DEL FERRO
1967: IDEA DI UN'ISOLA
1967: LA PRISE DE POUVOIR PAR LOUIS XIV (A Tomada do Poder por Luis XIV)
1968: ATTI DEGLI APOSTOLI
1970: SOCRATE
1970: LA LOTTA DELL'UOMO PER LA SUA SOPRAVVENZA, de Renzo Rossellini
1970: DA GERUSALEMME A DAMASCO
1971: INTERVISTA A SALVADOR ALLENDE: LA FORZA E LA RAGIONE
1971: RICE UNIVERSITY
1971: BLAISE PASCAL
1972: AGOSTINO D'IPPONA
1973: L'ETÀ DI COSIMO DE MEDICI (mini-série)
1973: CARTESIUS
1974: A QUESTION OF PEOPLE, de Beppe Cino, “From filming by Roberto Rossellini”
1974: CONCERTO PER MICHELANGELO
1977: BEAUBOURG, CENTRE D'ART ET DE CULTURE GEORGES POMPIDOU

Argumentista (em filmes que não foram de sua autoria)
1938: LUCIANO SERRA PILOTA, de Goffredo Alessandrini
1963: LES CARABINIERS, de Jean-Luc Godard
1967: LA LUTTE DE L'HOMME POUR SA SURVIE

Algumas obras de cinema e televisão onde aparece (testemunhos, entrevistas, biografias, etc.: 
1959: L'India vista da Rossellini (TV, mini-série de TV)
1960: Cinépanorama (Série de TV, documentário)
1960: Project XX (Série de TV, documentário)
1964: Roberto Rossellini: appunti biografici (TV, documentário)
1965: L'età del ferro (Série de TV, documentário)

1967: Toast of the Town (Série de TV)

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